domingo, 27 de janeiro de 2008

"O mito é o nada que é tudo."

Hoje voltou feliz a casa. Volta sempre sozinha, mas desta vez voltou feliz. Dançou um bocadinho pelo quarto e foi dormir. Nunca lhe disse, mas tenho inveja dela: tanta. Ela não tem inveja dela. É só mistério: os olhos, o corpo, as palavras. Cria este mistério para calar o grito mudo de que não é nada, nem ninguém, e que o dia em que tudo isto vai mudar, não vai chegar. Nunca. As pessoas que tem, ainda, são as que tentam descobrir-lhe o mistério. O cemitério que tem à sua volta é das pessoas que partiram, porque finalmente descobriram que atrás desse mistério, não há nada. É por isso que toda a gente acaba por partir. Porque só o mistério, não chega. Eu fico porque sei a tristeza profunda que ela é, e porque não me importo que ela não seja nada, não me importo que os seus sonhos sejam falhas profundas, e não me importo de amar o nada, porque nesse nada, vejo (a possibilidade de) tudo.

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