quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Duas pessoas apenas

Ela nunca tinha tido medo de estar sozinha em casa, via na solidão uma chávena de chá quente entre as mãos. Uma chávena que podia queimar, mas que em vez disso, aquecia. Agora tem medo. Ouve barulhos. Vê sombras. Ouve barulhos. Vê sombras. Sei tão bem porque começou a ter medo, porque começou a não gostar de ficar sozinha. Ela não quer pensar nisso, diz que não importa, mesmo que seja verdade. Enrola-se na cama cedo, para não pensar, e tenta adormecer sem um único sonho. Brinca: "tenho de ser a parte de dentro de um cigarro, envolvido no cobertor quente. E depois tu vens." Finge esquecer-se de que sozinha, não tem força para manter esse laço impossível. E luta, luta, luta. Está a aguentar-se, apesar das manchas de betadine. Mas até quando? É que se esse laço, esse desejo impossível que ela morde nas velas dos anos e murmura nos nós de uma pulseira de cores já a matou. E vai voltar a matá-la. Mas não o manter também a mata. E a magia desse laço está em que era só puxar um fio para ele se desfazer, mas para que ele não se desfaça, Carolina tem de ter a força para mudar o mundo, e ainda assim escolher tentar mudar duas pessoas apenas.

Sem comentários: