sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

18

Ela fingiu que não se importou. Foi só uma carta no correio. Foram só as palavras agudas. Foi só um número cortante. E um sentar demasiado cansado na cama por fazer há noites sem fim. Foram só os amigos que não perceberam. Foi só uma solidão grave na casa vazia. Foi só o silêncio a fazer barulho. E foi só o querer fugir, o querer ir embora e não saber quem levar. O querer ficar nas relações que não podem ser mais, mas são. O querer as pessoas que não estão, mas ela imagina estarem em todos os pormenores. O saber que tudo acaba, que nada é para sempre, muito menos aquilo que mais ninguém quer que seja para sempre. E mesmo assim sentar-se na borda da cama a sonhar, para que não importe a carta, e as palavras e o número, e a notícia de que por muito que aprendesse a partir não poderia ir embora.

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